quinta-feira, 12 de abril de 2007

Trocar...

A televisão moldou minha infância. Horas incontáveis gastas em nada. Programas educativos? No máximo Castelo Rá-Tim-Bum. Filmes violentos, desenhos animados e seriados sempre foram meus prediletos. Sempre fui grato por sua educação hipnotizante e arbitrária.

Um dia descobri a internet. Nunca desperdicei meu tempo em comunicadores instantâneos, chats e estes fomentadores de relacionamentos fracos à distância. No máximo, hoje uso o Gtalk enquanto trabalho. Meu vício sempre foi poder fazer downloads. Músicas, vídeos e jogos. Tudo. Mesmo com uma conexão discada, passava fins de semana inteiros preso na imensidão da rede absorvendo seu vasto repertório de conteúdo, em sua maior parte inútil.

Comecei com o Napster, que alimentava minha necessidade crescente de músicas. Mas logo veio seu fim, com os ataques diretos da indústria fonográfica que via o pequeno software – criado com o fim de trocas de arquivos entre estudantes universitários – como ameaça e principal causador de seu declínio econômico. Vários processos foram abertos contra seus usuários e suas portas foram fechadas. Foi só o início.

Houve uma explosão de redes gratuitas de troca. Audiogalaxy, Gnutella, Kazaa, Emule Bit Torrent. Elas surgem com a mesma velocidade com que são derrubadas. Fiz parte de cada uma. Acumulei sofridamente byte sobre byte nos meu pequeno mundo de 8 Ghz, até conseguir meu império pessoal de 40 Ghz (já insuficientes) e minha conexão de 2 MB. Minha vida mudou completamente. Hoje, o Napster, aliado com sua antiga inimiga, tenta aproveitar este nicho garimpando centavos de Dólar pelos mp3 transferidos.

A curiosidade destas comunidades gigantescas, nas quais milhões de pessoas partilham seus gostos, é que são talvez os vínculos mais efêmeros de toda a internet. Disfarçados sob a máscara de um nickname, indivíduos ligam-se apenas por uma barra dizendo quanto falta para acabar sua relação de puro interesse. Com os novos programas, é possível conectar-se a centenas de pessoas e não querer nada mais do que alguns megas de seu acervo pessoal, de sua cultura e seus gostos.

4 comentários:

Carlos Eduardo disse...

Justamente isso.. as pessoas se ligam a outras centenas em busca de um objeto. Não existe outra relação a não ser a de interesse. Quando eu usava o Emule, por exemplo, para acelerar o download, o programa permitia q vc paralisasse os uploads. Eu achava sacanagem fazer isso. Ou seja, baixar o conteúdo dos outros e os outros que, por sua vez, queriam baixar o que eu tinha, não conseguiam pq eu estava ali, atuando para impedir. Não costumava fazer isso, mas às vezes o fazia por problemas na velocidade de conexão e por querer adquirir de forma mais rápida o q era de meu interesse. Acho que aí cabe uma discussão sobre ética na relação de trocas de arquivos pela internet.

Vivian disse...

poxa, as relações se reduziram a downloads... esse texto me deprimiu... acho que vou desconectar... até amanhã... longe dos computadores... hahaha

Silvia Song disse...

Olha,eu prometo que eu não falo contigo só pra conseguir o livro do Harry,mas quando vc conseguir....me passa,tá?!hahahaha
Adorei!
Beijo

RDS disse...

Compartilhar arquivos nao significa compartilhar idéias, eu prefiro ver como um google de arquivos maiores que apenas sites e imagens, assim que consigo o que quero nao desconecto simplesmente pq nao me liguei a ninguém, pelo menos nao em essencia.
Que modernidade horrível!!!
Abraços